Durante o feriadão de 7 de setembro de 2018 aconteceu em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais, o Hacktown 2018, 4º edição do festival que – através de palestras, debates, workshops, mentorias e showcases – reúne mentes interessadas em aprender e compartilhar conhecimento sobre inovação, inteligência artificial, exercícios de futuro, música, novos limites e humanidade, nosso cérebro e nossas relações sobre o que vem por aí.
Um cenário que estimula a pensar
A cidade de Santa Rita do Sapucaí é especial: desde 1958 possui um pé em tecnologia em inovação, quando foi inaugurada a primeira Escola Técnica em Eletrônica da América do Sul, por iniciativa de Luzia Rennó Moreira, a Sinhá Moreira. Em 1965 foi inaugurado o INATEL, instituto pioneiro no ensino de telecomunicações no Brasil, nos anos 70 o FAI – Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação. A cidade forma, junto com Varginha e Itajubá, o Vale da Eletrônica. Toda essa bagagem tecnológica contrasta com o típico charme de uma cidade do interior, com suas ruas pequenas, antigos casarões, habitantes simpáticos e gentis com um notável senso acolhedor.
A arte zen de fazer escolhas
Desde o credenciamento, a energia do evento era visível, muitos sorrisos e conversas nas fila sobre o que esperar, o que e onde ver. Aliás, o que ver é uma angústia constante em um evento de 4 dias com mais de 300 atividades espalhadas pela cidade. A programação, disposta em um zine, assusta de tanta coisa legal em tão pouco tempo. Apesar de tentar marcar um pontinho em cada palestra que gostaria de ver, logo vi que esse método não ia dar certo: “essa aqui às 10h30 é quero ver.. ” – descia o olho “wow! essa deve ser boa.” Apesar dos locais não serem muito distantes entre si (em 15 minutos de caminhada para percorrer a maioria das distâncias), os temas se concentravam nos mesmos nos locais, dando uma flexibilidade de escolhas mais lógica.
Inteligência artificial aplicada: esperança e temores
A inteligência artificial e suas aplicações foi um tema bem presente no evento, e é a que mais desperta curiosidades, esperança e temores. Neste momento os computadores conseguem substituir as pessoas em tarefas repetitivas e, mais recentemente, em atendimento, mas a humanidade ainda se sente segura na criatividade humana como tarefa insubstituível. Porém, projetos como Flow Machines mostram que essa barreira não está tão distante. A quantidade imensurável de dados gerados a cada segundo dá muito informação para as inteligências artificiais, que, apesar de ainda não terem a capacidade humana de reproduzir um sentimento e nem de simplesmente sentir, conseguem emular decisões baseadas nestes dados.
Destrave seu cérebro (e coração) para inovar
“A tecnologia vai nos ajudar a destravar nossos cérebros para sermos humanos melhores. Humanos como nunca fomos.” – Cleber Paradela
Outra tema forte no Hacktown foi no campo de inovação. Maneiras de destravar a inovação nas áreas da saúde, design e música através de ferramentas que estão ao nosso alcance mas que não enxergamos. E para enxergar é essencial a troca de ideias e experiências com os mais variados campos. Diversidade de pessoas e opiniões faz com que a gente adquira uma visão renovada sobre resoluções de problemas.
Estude tendências e antecipe o futuro
O estudo do futuro para tomada de decisões de design, o Strategic Foresight, muito bem apresentado por Travis Kupp, demonstrou como técnicas de análise de tendências sociais, tecnológicos, econômicas, ambientais e políticas podem moldar nossas decisões de design para um produto preparado para o cenário em constante alteração. Esses estudos de tendências facilitam nossa tarefa de antecipar as dores e problemas que teremos que resolver em um futuro muito próximo.
Empreendedorismo de impacto social
A inovação no empreendedorismo atual, sobretudo entre as mulheres, onde aprendizado e otimismo estão desbloqueando áreas nunca antes experimentadas e gerando, através de ações reais, impactos significativos na sociedade.
Big data e decisões estratégicas
Na parte mais técnica do Hacktown, tivemos uma avalanche de conhecimento sobre Blockchain como, por exemplo, sua aplicação na saúde. Nunca foi possível ter acesso a tantos dados ao mesmo tempo, melhorando o tempo de diagnóstico e pesquisa a níveis jamais imaginados, mantendo segurança e veracidade das informações trocadas.
O big data como provedor de decisões estratégicas já uma realidade e, na casa Google, tive a oportunidade de ver com isso está sendo usando no futebol. Um placar é muito difícil de acertar baseado em dados, pois é o esporte mais imprevisível do mundo: quanto mais imprevisível o resultado, mais as pessoas se apaixonam, mas as consequências disso podem ser analisadas para tomadas de decisões e para previsões. Dentro e fora do campo.
Silêncio tecnológico e empatia
Além de toda a parte tecnológica e de empreendedorismo, o sentimento humano da empatia e da busca de um “silêncio tecnológico” também foi tema muito presente. Palestras em áreas verdes, onde o pessoal saia leve e respirava. A empatia do ser humano como fator fundamental para vivermos em um mundo mais tolerante é sempre citada, mas como termos empatia sem sair da análise de planilhas? Como fazer uma “mapa de empatia” sem termos qualquer tipo de empatia? Controlar nossos impulsos é parte de um processo que vamos precisar passar para evoluirmos.
No que isso impacta nosso cotidiano
A transformação que um evento de inovação traz no dia a dia é ampliar os horizontes para a utilização da tecnologia a favor das metas de uma organização. Isso significa aliar o que já pode ser utilizado no dia a dia a uma visão de futuro para que transformemos nossas práticas rumo ao que será realidade daqui a um, cinco ou dez anos.
Áreas como design thinking, marketing digital, redes sociais e comportamento humano são profundamente afetadas pela emergência da inteligência artificial. A forma como processamos informação e criamos dispositivos para captar e filtrar dados modifica nossos processos.
Um futuro melhor?
É importante perceber que somos nós que alimentamos as inteligências artificiais e, apesar de ser fácil imaginar um futuro distópico e sombrio onde seremos facilmente substituídos, o ser humano sempre se adaptou e vai seguir se adaptando. A automação pode nos ajudar a trabalhar menos. Vamos criar outros problemas e outras soluções, assim como fizemos outras revoluções. Estou sendo muito otimista? Com certeza sim, mas depois de ouvir tanta gente legal, trocar ideias e aprender tanto, respirando o ar puro de uma pequena e simpática cidade do interior, minha esperança de um futuro melhor, daqui a 10, 20 anos, foi plenamente renovada.
Por Fabian Umpierre