A décima edição do Fashion Friday, em agosto de 2017, tratou de MODA E TECNOLOGIA, uma combinação que pode ser interpretada de várias formas. O evento abordou pelo menos três interpretações. A primeira, engloba wearables, roupas inteligentes e sensores implantados na pele. A segunda, tecnologia usada para vender moda. A terceira, a relação entre moda e o mundo dos games.
Já virou tradição a Aldeia participar do Fashion Friday. O evento nasceu para disseminar conteúdo e conhecimento crítico das diversas áreas da moda. Ele também estimula o debate de temas como empoderamento de mulheres por meio da moda; comunicação e moda; pesquisa na moda; varejo e inovação em moda; moda de nicho; feminismo e moda; conexões na indústria da moda; corpo e moda. Realizado em Campinas/SP pela Tendere e pela Butique de Cursos Ana Vaz, o evento é voluntário, colaborativo e gratuito.
Panorama sobre moda e tecnologia
Patrícia Sant´Anna, Fundadora e Diretora Criativa da Tendere, abriu a conversa com um breve panorama de moda e tecnologia. Moda pode ser a criação de uma aparência e como é construída a partir de desenvolvimento específico ou da apropriação tecnológica. Moda também é um elemento de comunicação, que inspira e é inspirada pela arte e por outras indústrias. Tecnologia é conhecimento aplicado. O conhecimento é gerado primariamente pela ciência. Seus achados e pesquisas se desdobram e são aplicados em disciplinas como o design e as engenharias, por exemplo.
Com referências do cinema sobre tecnologia e futuro, ela provocou uma reflexão sobre o imaginário futurista e de ficção científica. 2001: Uma Odisséia no Espaço, lançado em 1968, foi definidor para a memória coletiva que temos de futuro. Marcas de moda, como Gucci, apresentaram campanhas recentes com a relação espaço-tempo, mesclando linguagens visuais do passado e do futuro. O cinema também já retratou o desejo de experimentar a tecnologia interna ao corpo, no filme Total Recall (1990 e 2012). Nem bem os wearables (tecnologias vestíveis ou roupas inteligentes) ganharam escala no mundo, já acontecem os primeiros experimentos com biochips. Implantados na pele, facilitam tarefas operacionais para quem trabalha em escritório.
Essas pesquisas e iniciativas devem levar alguns anos para atingir escala na indústria da moda. Seu papel pioneiro é importante no cenário e provavelmente impactará na forma como nos relacionamos com roupas, calçados e acessórios. Também haverá impacto na forma como os produtos de moda são concebidos, produzidos, distribuídos, vendidos e descartados.
Conteúdo de moda no meio digital
Caline Migliato, Gerente de Marketing de Conteúdo na Dafiti, falou sobre o impacto da tecnologia na produção de conteúdo de moda. Apontou 4 estratégias que estão em alta, aplicáveis a varejos online e marcas de diversos portes. Chatbots, micro-influenciadores e vídeos (YouTube, lives no Instagram e Facebook) estão dentre elas.
A quarta estratégia apontada é o conteúdo sem marca. Ela tem sido experimentada com sucesso por grandes marcas, a exemplo da FAB Beauty da L´Oreal. A proposta é oferecer curadoria qualificada sobre o tema beleza, Isso sem mencionar a marca, sem vender online e sem restrições de mencionar concorrentes. O conteúdo, gerado para engajar, é impulsionado por influenciadores dos segmentos de moda e beleza. Além disso, ele explora culturas e rituais relacionados a este universo.
Produtos digitais para o varejo de moda
Maria Fernanda Napole, Gerente de Produtos Digitais na Dafiti, falou sobre produtos digitais para o varejo de moda. Um dos principais desafios do comércio eletrônico é reduzir as taxas de troca e devolução. Afinal, a moda é uma das categorias mais vendidas na internet atualmente. É aí que entra o produto digital: um conjunto de ações, informações ou ferramentas para reduzir barreiras na compra online. Barreiras típicas na compra de roupas online são o toque do tecido e o tamanho das peças.
Produtos digitais podem ser complexos. A criação de um avatar para que o consumidor simule a prova das roupas (tamanho e caimento). Um sistema que use machine learning para sugerir o tamanho (com base em medidas corporais e na base de dados dos compradores). Mas também podem ser simples, como um guia de tamanhos bem diagramado e preciso. Informações de qualidade para descrever os produtos são o básico do básico, funcionando tanto para pessoas como para máquinas (SEO para os buscadores): fotografias e textos qualificados funcionam em todos os portes de varejo online.
Tecnologias disruptivas para moda
Joy Pires, pesquisadora de tecnologias disruptivas para a moda, garante que a roupa do futuro está mais próxima que imaginamos. É possível fazer roupa tecnológica sem usar sensores, com tecidos inteligentes ou tecidos feitos de fibras de alimentos, aproveitando sobras de comida (conceito de logística reversa). Derivada da IoT (Internet of Things), a IoC – Internet of Clothing, já é uma realidade para marcas. Ela grava informações nas etiquetas de roupas, para serem lidas por dispositivos contidos nos celulares ou relógios. As informações disponibilizadas costumam ser sobre o processo produtivo da peça, dicas de conservação e descarte. Joy trouxe muitas referências de marcas que pesquisam e vendem linhas de moda com tecnologia aplicada, tanto conceitual como comercialmente.
Os games e a moda
Guilherme Rodrigues, apaixonado por Design Digital e Games, falou dos desafios da representação têxtil no mundo digital. Para ele, conceber e desenvolver figurinos para personagens de games é muito importante para o sucesso de um jogo. Começou analisando os figurinos e suas inspirações na segunda geração de jogos, com o Super Mario Bros de 1985, até hoje, em que a indústria de games está na oitava geração. Em cada geração, os desafios da representação têxtil de roupas nos games avançam um pouco, muitas vezes motivados pela emoção que pretendem causar nos jogadores, especialmente nos jogos que são filmes jogáveis. O tema desperta o interesse de marcas como Louis Vuitton, que teve a personagem Lightning, do jogo Final Fantasy 13, como modelo de sua coleção SS16, na campanha SERIES 4.
O futuro da indústria da moda
A indústria da moda é dinâmica por natureza e vai passar por transformações de alto impacto nos próximos anos. Tecnologia, consumo consciente, logística reversa, moda ética, mudança de eixo econômico mundial, design circular, IoT, realidade aumentada e outras tendências devem alterar a moda como ela é feita e consumida hoje, em especial tudo o que envolve o universo do fast-fashion . Desafios e oportunidades à vista!
A Aldeia atua em comunicação para a indústria da moda e lifestyle desde 2004 e vem colaborando com mais de 30 marcas em suas experiências de branding, relacionamento e vendas. Vamos falar de marketing digital first para moda e estilo?
Veja nosso review da Fashion Friday anterior.
Por Tatiana Brugalli